
Em Defesa do marxismo: polêmica revolucionária e outros escritos, agora publicado em português pela Boitempo Editorial, o leitor encontra esse ensaio, composto de dezesseis artigos, e outros seis escritos inéditos em que Mariátegui se atém a algumas das mais importantes questões filosóficas e políticas do conturbado período que colidiu com os horrores da Primeira Guerra Mundial e, por outro, com a Revolução de Outubro. “Sua técnica de dissecar experiências da discussão socialista e equívocos dos revisionistas ou, ainda, iluminar personagens importantes no jogo dos poderes e ideias não se limita a um abstracionismo esquerdista ou a uma emotiva história política – é antes uma plataforma tática de onde se ergue para enxergar o porvir humano no instável pós?Guerra”, afirma o jornalista, estudioso e tradutor do livro, Yuri Martins Fontes, na introdução.
Com uma tradução cuidadosa e texto de orelha do filósofo Carlos Nelson Coutinho, a edição preserva o estilo eloquente e cativante do autor, mantendo a contundência das repetições, seu ritmo de pontuação e sua escolha de termos que exigem conceituação precisa.
Trechos do livro
“A verdadeira revisão do marxismo, no sentido de renovação e continuação da obra de Marx, foi realizada na teoria e na prática por outra categoria de intelectuais revolucionários. Georges Sorel, em estudos que separam e distinguem o que em Marx é essencial ou substantivo daquilo que é formal e contingente, representou nas primeiras décadas do século atual – talvez mais do que a reação do sentimento classista dos sindicatos – o retorno à concepção dinâmica e revolucionária de Marx e sua inserção na nova realidade intelectual e orgânica, contrariamente à degeneração evolucionista e parlamentar do socialismo. Através de Sorel, o marxismo assimila os elementos e aquisições substanciais das correntes filosóficas posteriores a Marx. Superando as bases racionalistas e positivistas do socialismo de sua época, Sorel encontra em Bergson e nos pragmatistas ideias que dão vigor ao pensamento socialista, restituindo-o à missão revolucionária da qual o havia gradualmente afastado o aburguesamento intelectual e espiritual dos partidos e de seus parlamentares, que se satisfaziam no campo filosófico com o historicismo mais raso e o evolucionismo mais assustado. A teoria dos mitos revolucionários, que aplica ao movimento socialista a experiência dos movimentos religiosos, estabelece as bases de uma filosofia da revolução, profundamente impregnada de realismo psicológico e sociológico, ao mesmo tempo que se antecipa às conclusões do relativismo contemporâneo, tão caras a Henri de Man.”